sábado, 29 de março de 2014

A borda

Um dos momentos mais interessantes nestes quase dois meses de Califórnia foi ter conhecido a borda (ou the border, como se fala por lá).
Trata-se da fronteira entre San Diego e Tijuana, cidade do México vizinha, onde vive ou de onde vem uma boa parte dos trabalhadores em busca de oportunidade na terra de Tio Sam. Pois a cultura mexicana em San Diego é fortíssima, dando nome às ruas, museus, praias, manifestando-se na culinária, feiras, mercados e até mesmo em eventos locais.  
As fronteiras sempre me geraram um certo fascínio. Desde criança, quando cruzávamos um estado, ou mesmo uma cidade, meu pai chamava atenção para o limite entre municípios. Um dia, atravessei uma ponte a pé e passei do estado do Rio ao de Minas em alguns segundos, achando o fato muito empolgante.
Eu sabia que existia uma fronteira ali bem ao sul de San Diego. Uma fronteira intrigante, porque mexia com o imaginário de muita gente. Uma fronteira certamente cheia de histórias, de sonhos, de conflitos, de mistura entre povos. Uma fronteira cultural. Uma fronteira capital. Uma fron-tei-ra. Eu pensava em conhecer Tijuana, mas com um bebê, não me atrevi a ir além de pensar. Não imaginei que fosse conhecer. 
Um dia ela veio até mim. Numa saída despreocupada e capitalizada num passeio mais que tipicamente americano para conhecer o outlet local (denominado Las Americas). Estava prostrada no banco de trás do carro, carregando Abeille ao peito, sem saber se iríamos mesmo comprar alguma coisa àquela altura da viagem. E foi então que eu vi! Junto às placas de direção do Outlet Las Americas estava indicando Tijuana 7 milhas. Tijuana 3 milhas. USA last exit (última saída para os EUA, coincidentemente com destino exclusivo ao shopping), Tijuana 1 milha. Menos de 2 quilômetros de distância e lá estava ela! A fronteira e a cidade.
Um amontoado de casas morro acima, uma bandeira do México flamulando e estava lá. Do outro lado, mas aqui do lado. Outro país, outras regras, outra política, outro lixo, outras pessoas. E uma curiosidade imensa aqui do meu lado, de conhecer o lado de lá. De vencer as barreiras, de invadir, de tocar, sentir, cheirar, de adentrar. E me lembrei também do ditado Tailandês: Same, same, but different. Igual, igual, mas diferente. 
O carro seguiu seu caminho, entrou na última saída e seguimos o destino do shopping center. A fronteira ficou pra trás, com seus encantos. Mas eu vi e quase pude tocá-la. Mais um pouquinho e estava lá. Não foi desta vez. Seguimos para mais do mesmo. E certamente já não éramos os mesmos depois de presenciarmos cenário tão fascinante. 

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