quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Religadores


Agora vieram com essa de religadores… Os religadores da Ampla, que guardam um gerador ou coisa que o valha. Assim, em caso de falta de energia, estes aparelhos suportam o fornecimento evitando apagão de luz. Claro, tá lá, anunciando na TV, numa entonação de exclamação, que maravilha é o desenvolvimento da tecnologia, sempre pensando em melhorar o bem estar de todos. Cá comigo, eu tenho minhas dúvidas. Se isso é mesmo uma melhoria para o bem de todos e felicidade geral da nação. Afinal, esse bem estar é o quê? Ter a casa acesa o tempo todo? O ar condicionado na noite de verão? A TV, o último capítulo da novela, o jornal das 8h?
E aí, quem vive nas grandes cidades e trabalha de segunda a segunda vai ter tempo quando de ver o céu estrelado? De ouvir o silêncio da noite? De perceber aquele vazio quando até o motor da geladeira parou de funcionar? De sentir a paz que esse momento precioso nos traz?  Até o céu e os anjos parece que ficam mais perto…
Tudo bem, às vezes é necessário (muitas vezes é necessário) para o estilo de vida que a gente leva. Mas fala sério, gente, se não tiver mais apagão, então como é que vai ser? Como é que eu vou mostrar a via láctea para os meus filhos? Capaz ainda de haver redução no índice de natalidade.
Eu mesma tenho uma ligação muito forte com essa coisa de apagão. Minha mãe conta que foi num momento assim que eu fui gerada. Não tinha televisão pra assistir, daí eles foram “inventar” o que fazer. Como se fosse necessário mesmo inventar as coisas de Deus.
Por exemplo, imagine só faltar luz no dia do casamento? Festa, convidados, freezer, som, decoração, tudo dependendo da bendita energia elétrica e aí uma tempestade de março deixa a cidade inteira às escuras por 3 horas. Tive que entrar na cerimônia à luz de velas, à luz de tochas e de celulares ligados (olha só que coisa moderna!). Minha mãe, às pressas, improvisou a marcha nupcial no piano. E foi tudo no escurinho mesmo. Céu estrelado, ao som dos grilos e do coachar dos sapos. A luz só voltou lá pra meia-noite, quando já estavam todos embriagados de uma boa conversa e mergulhados na escuridão de um bom vinho bebido à temperatura ambiente. E eu não imagino que pudesse ser de outra forma. Até hoje, todo mudo lembra o quanto estava agradável a festa à luz de tochas. Conto, orgulhosa, às pessoas que o meu casamento foi diferente. Diferente mesmo. Não foi essa coisa de “lembrancinhas personalizadas” – e que no final é tudo igual, só muda a foto do casal.
Por ora, eu vou aproveitar enquanto a modernidade não chega aqui, na minha cidade, na minha rua. Quando a luz faltar, vou correr pra varanda ver a lua. Vou ouvir o som do mar, meditar, acender espiral pra espantar mosquito... Em cidade pequena essa invenção deve demorar mais a chegar. Eu vou torcer para essa novidade começar em São Paulo e por lá ficar. Depois a gente vê o que faz... Talvez seja necessário combinar um dia com hora marcada, pra todo mundo parar o que está fazendo – uma rua inteira, um bairro, quiçá uma cidade – e desligar o registro geral de suas casas. E depois, relaxar.

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