quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Felicidade Capital


É engraçado como a indústria consumista vem tentando conquistar aquele pessoal que não tá nem aí pra nada e continua usando a mesma camiseta velha de 79. Começaram a comercializar uns produtos que garantem individualidade, peças confeccionadas à mão, utilitários quase exotéricos de tantas promessas para tornar sua vida mais leve e seus momentos únicos. O comércio e a indústria já se ligaram em como as pessoas estão se cansando de todo esse assédio capitalista. Os sonhos das conquistas materiais aos poucos estão cedendo lugar à busca de algo a mais no interior de si, a uma vida mais leve, em contato com a natureza e à valorização os momentos simples, de estar com a família, de ingerir o que a natureza nos oferece com tanto carinho: Peixes, frutas, verduras…
Ser um riponga, natureba virou meio que moda, mas esse movimento não veio da mídia para conscientizar a sociedade. Desde quando mídia quer conscientizar alguém de parar de beber coca-cola?
No fundo mesmo eu acredito que foi bem o contrário. O capitalismo pesou, com seu excesso de insumos. Tipo a moda carregada de cores e acessórios dos anos 80. Cansou, virou brega. Daí, a gente começou a enxergar que esta busca desenfreada pela riqueza, que este tanto possuir, ter e reter no final das contas em nada acrescenta, deixa um vazio.
Sendo assim, voltamos ao nosso modo de vida natural, inspirado nos índios, nos neandertais e afins e passamos a respeitar também o estilo de ser de cada um. Ou seja, o modismo saiu de moda. Claro que isso desesperou a indústria do alto consumo. Como fazer o indivíduo querer sempre mais e mais se ele já tiver conquistado sua casinha pequena e aconchegante, se ele está bebendo suco da fruta do vizinho e aproveitando o vestidinho florido do verão passado? Se isto lhe bastar, dinheiro não circula, economia cai.
É aí que se torna evidente a adaptação deste sistema em que vivemos, temendo perder seu lugar neste mundo. Cada vez mais os anúncios comerciais estão voltados para vender bem estar. Não mais basta anunciar um carro potente e luxuoso. Ele tem que ser o conforto para sua família, ou tem que ser a chave para uma vida aventureira. Aliás, o que mais surgiram foram novos carros no estilo off-road (embora não aturem nem mesmo um quebra-molas), justamente sugerindo que vão te tirar desta selva de pedras e te levar ao Éden (mas eles vão te custar as economias de alguns anos). Os sucos são encaixotados, da fruta natural (cultivada e colhida no tempo certo, com carinho de mãe), prometendo gominhos de verdade (depois dessa, quem vai querer descascar uma laranja?). Os móveis planejados são todos iguaizinhos, mas prometem respeito ao seu estilo. “Estilo – cada um tem o seu. Mas todo mundo vai comprar aqui.”
Outra coisa que virou febre chata foi a mania de vender tranquilidade, paz e felicidade. Um banco oferece facilidades no empréstimo, para que você compre uma casa nova com um grande jardim verde, mas claro, eles têm o cuidado de informar que ter é diferente de viver. Tudo muito no estilo compre um colchão, leve o sono tranquilo. Um fast-food de comida italiana tem a missão de servir felicidade: Um prato de macarrão. E sequer foi preparado pela Nona!
Dentre tantos apelos, melhor desacelerar um pouco, pra não ser enganado. Melhor ficar com aquela mesinha antiga que foi da vovó e com um velho livro de poesias escrito à mão por um namorado. Mais vale escutar Vinicius, viver ao jeito do poetinha, dar uma banana pro Mr. Buster, plantar um pé de jabuticaba no quintal e ouvir o choro do Pixinguinha. Só não sei essa coisa de torcer pro Botafogo, que isso aí é estilo de vida. Fica a critério de cada um sorrir ou chorar...


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