terça-feira, 14 de junho de 2016

Coleção de britas, etc.

Se eu fosse guardar todas as pedrinhas que a Abeille recolhe pelo caminho, já teria uma carregamento de britas para começar a obra. Hoje tive folga das aulas e, devido ao frio que assola o país, resolvi não levá-la à creche. Ao invés disso, fomos dar uma volta pelo bairro para pegar um solzinho e esquentar o corpo. 
Eu tenho essa relação ambígua com o inverno. Eu sou a friorenta. Preciso de um casaquinho à noite, mesmo no verão. Mas quando ele chega assim, com força (o frio), eu fico no fundo torcendo para a temperatura cair um pouquinho mais no dia seguinte. Talvez pelo fato de que por aqui o frio de verdade dura tão pouco tempo que eu quero aproveitar ao máximo as coisas boas. Como este passeio numa tarde fria e ensolarada, ao lado da Abeille que riscava o chão com sua varinha de condão e de tanto em tanto me entregava pedrinhas geladas para guardar no bolso. 
Caminhamos mais um pouco e ela avistou uma caixa cheia de brinquedos velhos e empoeirados jogados no lixo. A princípio ela apontou dizendo: "Nossa, quanto lixo!" E eu achei que não seria necessário ter que desviá-la da tranqueira imunda que se apresentava. Mas ficou claro que aquilo era um pretexto para se aproximar da lixeira e pedir para olhar os brinquedos. Pegou um secador de cabelo quebrado e perguntou se podia levar. Eu relutei um pouco, mas cedi, pensando em me livrar do treco depois que chegássemos em casa. Mas avisei que ela poderia levar um só, para evitar que pedisse algo mais. Ao escutar o comando "levar um só", ela voltou imediatamente para a caixa da lixeira, para verificar se havia algo melhor. Eu baixei a guarda e removi uns cacarecos para ajudá-la na empreitada. Ofereci alguns bichinhos de plástico, com um aspecto bom, que ela recusou. Remexeu mais um pouco e de lá tirou seu presentinho dizendo: "Ah, meu bebezinho, vem aqui, vamos passear".  E dali saiu feliz da vida puxando atrás de si uma pequena criatura sacolejante. 
Eu fiquei tão admirada da seriedade com que ela encarou a escolha de um único brinquedo em uma caixa de quinquilharias e o valor que ela deu ao brinquedo escolhido, que fiquei refletindo sobre a simplicidade das coisas: Um passeio na estrada de terra, um brinquedo novo encontrado no lixo... Pensei em como nos encerramos em nossos mundos cheios de bugigangas e como talvez pudéssemos ser diferentes se nos desapegássemos daquilo tudo que abarrota as gavetas dos nossos armários e dos nossos corações. 
Resgatada da lata de lixo

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