Não sei bem precisar a partir de quando comecei a identificar as estações do ano. Talvez a maturidade tenha ampliado a minha capacidade de percepção das coisas. Ou porque o clima na cidade onde moro é, como disse uma amiga do trabalho, "bem temperadinho, né?". O fato é que com o passar dos anos, fui percebendo e admirando cada vez mais amiúde a repetição dos fenômenos da natureza, quase como um ritual sagrado que não pode deixar de acontecer e de se fazer perceber em minha vida. A mudança das estações já faz parte de mim.
Por isso é que resolvi escrever essa série das estações do ano. Cada uma delas será escrita na estação referente, o que será um projeto de médio prazo para ser alcançado!😋
O verão começa marcado pelo vôo das andorinhas nascidas na primavera. No início, em Dezembro, elas estão titubeantes, com um vôo desengonçado, e é comum caírem no quintal ou dentro de casa, perdidas de seu trajeto. Em março, já adultas, ou quase isso, voam todas em bandos, fazendo reviravoltas, dando um belo espetáculo, principalmente no centro da cidade, onde há grandes árvores centenárias que as abrigam.
No início, os dias são marcados por uma chuva fina, que vai cedendo gradativamente e dá a vez aos dias quentes e secos e noites deliciosamente estreladas, sem vento. Aí as cigarras começam a cantar. É quando nos dispomos a ir caminhando até a praia para ver a lua nascer do mar, gigante e amarelada. As manhãs quase nos empurram para fora, como se fosse necessário extrair o melhor disso tudo, viver plenamente alguma coisa (que no entanto continua lá e vai continuar sempre). Os encontros se tornam mais frequentes. Amigos, família, desconhecidos, banquetes e sorrisos. A praia com crianças deve começar antes das 6 e acabar antes das 9 da manhã. O mar se aquieta para nos deixar entrar. Com o tempo, o calor vai ficando cada vez mais insuportável e o vento, muito escasso, até que o céu não se aguenta mais e desaba em forma de chuva de uma só vez, alagando toda a cidade.
Em casa, é tempo de florirem as bromélias encontradas no chão, aquelas que dão em árvore e caem com o vento (ouvi falar que se chamam Tilândsia), formigas grandes fazendo ninho dentro dos armários e das portas ocas, cochonilhas empesteando a jabuticabeira e a pata-de-vaca (essa sempre parecendo muito doente pelo calor que a acomete). A terra seca voa e faz uma poeira fina constante na varanda da frente, o sol entra pelo quarto à tarde sem pedir licença, enquanto pelas janelas nascentes o vento (em dias em que há vento) tenta refrescar pelos corredores. Trocamos o café da tarde pelo chá preto gelado, as sopas pelas saladas cruas. Abacaxi, pêssego, pêra williams e melancia. Enchemos uma piscina plástica, tomamos banho frio do lado de fora e lavamos os cabelos todos os dias.
Ele (o verão) parece chegar como um sopro de alegria, um alívio não sei de que e depois, tal qual uma visita que se estende por um período muito prolongado, torna-se excessivo, folgado, barulhento. Por ora, estamos em Lua de Mel.